Após quase dois anos, administração da UFPR atingiu apenas 8,45% das metas previstas pelo PDI 2022-2026

Por: Eduardo Perry

O Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) foi divulgado em novembro de 2022, seguindo a prorrogação do prazo do plano anterior (2017-2021)

De acordo com a plataforma FORPDI (ver aqui) do Ministério da Educação (MEC), a UFPR executou somente 8,45% das metas estabelecidas no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) vigente, iniciado em 2022 e previsto para terminar em 2026. A plataforma do ministério utiliza dados fornecidos pela própria universidade, servindo apenas como uma facilitadora do gerenciamento de execução do plano, que estabelece cinco objetivos estratégicos com ações programadas para cada um deles. 

O primeiro PDI da UFPR foi implementado para o período de 2002-2006. Esse plano foi o precursor de uma série de PDIs subsequentes que têm como objetivo estruturar o planejamento estratégico da universidade, guiando o desenvolvimento de suas atividades acadêmicas, de pesquisa, extensão e gestão institucional. O documento é integrado com outros planos diretores da UFPR, além de se articular com o orçamento da instituição e planos setoriais. Ele garante que as ações da universidade estejam alinhadas com políticas públicas e objetivos institucionais de longo prazo. 

O PDI vigente, divulgado no segundo semestre de 2022, estabelece cinco “Objetivos Estratégicos” (OEs) para serem alcançados até 2026. Esses objetivos são baseados em preceitos mais abrangentes do plano e cada um deles prevê uma série de “módulos de ações” práticas que devem ser realizadas. Além disso, o PDI já define os custos estimados, as fontes de recurso, as unidades responsáveis pela execução e a prioridade de cada uma dessas ações.

Os cinco Objetivos Estratégicos (OEs) estabelecidos pelo PDI/ Fonte: Plano de Desenvolvimento Institucional UFPR 2022-2026
Modelo de módulo de ação estratégica/ Fonte: Plano de Desenvolvimento Institucional UFPR 2022-2026

A plataforma FORPDI do MEC auxilia na administração da execução do plano, também trazendo transparência para esse processo. O dado de 8,45% das metas atingidas diz respeito ao quanto dessas ações foram realizadas, mesmo que parcialmente, levando em consideração que cada ação tem um peso e contribuição específica para o cumprimento do objetivo geral. Além disso, vale ressaltar que a plataforma FORPDI também quantifica metas que estão dentro dessas ações, ou seja, quando cumpridas, podem representar que alguma ação mais abrangente está em andamento, mas ainda não foi concluída totalmente. 

O módulo de ação OE1.2, por exemplo, tem como objetivo final: “Promover a expansão dos programas de pós-graduação lato sensu”. O indicador utilizado para medir o cumprimento dessa ação é a “taxa incremental anual do quantitativo de curso”, que deve ser de 5% ao ano. Em 2023, o número total desses cursos cresceu 13,61%, cumprindo parcialmente o objetivo final estabelecido no PDI. Esse tipo de dado é contabilizado pela plataforma FORPDI, que atualiza o progresso da universidade conforme o peso atribuído a essa ação. 

Mesmo assim, muito pouco do plano foi executado até agora. Levando em consideração que ele entrou em vigor há 25 meses – visto que o PDI anterior foi prorrogado para julho de 2022, atrasando a elaboração do novo plano -, a atual gestão da UFPR cumpre, em média, com 0,4% das metas por mês. Nesse ritmo, ao final de  2026 terão sido executados apenas 18,05% do planejamento. 

Em comparação, esse índice é inferior à porcentagem de execução do último PDI (2017-2021), que é 21,5%, segundo dados da PROPLAN/CPI. Esse dado, inclusive, foi fornecido pela Pró-Reitoria de Planejamento para a elaboração do plano atual. O objetivo do levantamento era mapear ações com a execução atrasada que deveriam ser passadas de um PDI para o outro. Dessa maneira, é muito possível que ações estabelecidas em 2017 com prazo determinado para 2021 ainda estejam em andamento.

Gráfico apontando ações atrasadas do PDI 2017-2021/ Fonte: Plano de Desenvolvimento Institucional UFPR 2022-2026

Administração da UFPR não tem informação sobre aproximadamente 70% das ações previstas no PDI

Segundo o Dashboard de Monitoramento do PDI (ver aqui), disponível no site da Pró-Reitoria de Planejamento, Orçamento e Finanças da UFPR (PROPLAN), apenas uma das 65 ações previstas no plano vigente já foi concluída: a regulamentação do teletrabalho no âmbito da UFPR. No entanto, o painel também indica que a administração da universidade não possui informações sobre o andamento de 45 dos módulos de ação, ou seja, não é possível saber o status atual de execução de quase dois terços dos projetos previstos pelo PDI 2022-2026, apenas que outras 15 ações estão em andamento e uma ainda “não foi iniciada”. 

Por óbvio, não ter informações sobre a execução de um dos planos mais importantes e objetivos da universidade dificulta a sua administração. Mas para o professor do Curso de Geografia da UFPR e especialista em gestão participativa, André Vinicius Martinez Gonçalves, a questão da falta de transparência é ainda mais controversa. Na opinião do professor, é essencial que a comunidade acadêmica acompanhe a execução do PDI, o que exige a disponibilização de dados atualizados e precisos sobre a sua implementação. 

Atualmente, a UFPR convoca a sociedade, assim como estudantes, docentes e técnicos administrativos para participar da elaboração do plano. No entanto, se a instituição não consegue oferecer informações sobre o andamento de 70% das ações previstas no documento, a participação só ocorre de quatro em quatro anos, dificultando o escrutínio por parte dos mais interessados em sua execução. Segundo Gonçalves, ao longo da vigência do PDI, a administração precisa dar retornos a comunidade, que dessa forma, “conseguiria ajudar a corrigir problemas internos e participar do debate acerca de possíveis mudanças nesse documento, que precisa ter um grau de flexibilidade”, afirma o especialista. 

Ele ainda ressalta que a gestão da UFPR pode e deve ser muito mais participativa do que é hoje, indo além da disponibilização de dados internos com transparência. Para Gonçalves, é preciso que a universidade realmente envolva sua comunidade em suas decisões com métodos eficazes e processos formativos, “Não é simplesmente chamar a comunidade e ‘vamos discutir’… Essa comunidade precisa ter ciência do que é o Planejamento, o quanto dele foi executado e quais são seus objetivos”, diz. Além disso, o professor acredita que esse processo contribui para uma gradual imersão nas ideias de planejamento participativo e gestão democrática, que vai se aprimorando com o tempo. 

Chega junto com o Movimento UFPR.

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