Marcos Sfair Sunye nasceu em 1964, o ano que não terminou, segundo Zuenir Ventura. Viveu a infância num regime de exceção, terminou a faculdade de Processamento de Dados em 1986, na UFPR, quando o país já vivia sob um governo civil. Entre o mestrado, em Engenharia de Software (Universite de Nice, 1987), o doutorado em Banco de Dados (Université de Bourgogne, 1993) e o pós-doutorado (Laboratório de Informática de Paris VI – LIP6- da Université Paris VI, em Jussieu, entre 2007), votou pela primeira vez para presidente da República. Esta história precisa ser contada assim, para mostrar uma vida em que as escolhas políticas e as escolhas de carreira caminharam juntas.
Em 2003, depois de ter passado por alguns cargos administrativos, como a chefia do departamento de informática (1998 e 1999) e direção do Centro de Computação Eletrônica (CCE), atualmente AGTIC (2000 a 2003), foi um dos fundadores do Centro de Computação Cientifica e Software Livre (C3SL). Acumulou então o cargo de diretor geral do C3SL com o de chefe de Departamento de Informática, de 2003 até 2006.
Hoje, o C3SL é um dos principais repositórios de softwares livres, como o Linux, do Brasil. E isso, está longe de ser uma escolha técnica; é, sobretudo, numa sociedade onde dados são o “novo petróleo”, uma escolha política. Com a ascensão das big techs e os efeitos das redes sociais na economia e na política, defender códigos abertos e construção transparente e colaborativa de soluções de informação é vanguarda política. “O movimento de software livre surge com a ideia de que o código de programação é um bem comum, que você compartilha. E isso vai beneficiar a comunidade da computação e a sociedade. E aquilo mudou a cabeça de muita gente, todo mundo desenvolvendo junto”, conta Sunye. “E isso molda minha visão da Universidade também”.
Em todos os projetos dos quais participou, e foram muitos, Sunye leva esta concepção mais inclusiva de computação e de mundo.
Inclusão digital e dados abertos
Ele participou da implantação da área de computação científica na UFPR, junto a Finep/CTINFRA, e implantou o primeiro supercomputador do estado do Paraná. Foi um dos líderes da área de Bibliotecas junto do projeto CT-INFRA/Finep. É um dos responsáveis pela criação da biblioteca digital da UFPR que reúne 62 revistas eletrônicas, todas as teses e dissertações desde 2004, além de outros conteúdos gerados pela UFPR. Foi membro da Comissão de Sistemas de Informação e Telecomunicações do Estado do Paraná e presidente do Comitê Gestor da rede COMEP, projeto da Rede Nacional de Pesquisa (RNP) de implantação de fibras óticas na região metropolitana de Curitiba de 2007 até 2014. Coordenou o projeto Inclusão Digital Integrada em parceria com o Ministério das Comunicações e desenvolveu o Sistema Integrado de Monitoramento, vencedor do Prêmio Boas Práticas, da Coordenadoria Geral da União (CGU), em 2015 como melhor site de Transparência Ativa do Governo Federal.
Um projeto foi central na mudança de patamar do C3SL e um ponto de virada na vida de Sunye: o Paraná Digital. “Por causa do Paraná Digital, cada município do Paraná tinha fibra ótica. Isso mostrou que a gente pode, de dentro da UFPR, do departamento de Informática, transformar a sociedade inteira”, conta. Sunye coordenou o projeto Paraná Digital, em parceria com o governo do Estado. O projeto implantou 2.100 laboratórios de informática em escolas públicas do Paraná e desenvolveu o conceito de multiterminal, um único computador ligado a vários terminais, o que reduziu sensivelmente os custos de informatização das escolas e permitiu que o projeto fosse universal. A partir do Paraná Digital, o C3SL seria um parceiro constante de governos na criação de soluções para o setor público, sendo hoje um dos maiores captadores de recursos da UFPR.
Gestor público
Paralelamente, Sunye seguiu na carreira administrativa. Foi membro do Conselho de Ensino e Pesquisa (CEPE) e coordenador da pós-graduação em Informática de 2008 a 2010. Entre 2013 e 2021, foi eleito e reeleito diretor do Setor de Ciências Exatas, onde implantou inovações de gestão como o orçamento participativo. Atualmente é vice-coordenador da pós-graduação em Informática.
Em 2016, junto com a professora Andrea Caldas, disputou a reitoria da UFPR. Chegaram muito perto, com 48,22% dos votos ponderados, 7.611 votos de professores, técnicos e alunos. Após o fim da gestão como diretor de Setor, foi pesquisador visitante na Universidade Politécnica da Catalunha de maio de 2021 até dezembro de 2022, experiência de onde trouxe a plataforma Decidim de deliberação digital para a UFPR. Atualmente é professor titular, com ênfase em banco de dados, integração, análise de desempenho e bibliotecas digitais.
Participa da pós-graduação em Informática desde sua criação. Já orientou 17 dissertações e 3 teses. Continua com a visão aberta e multidisciplinar de universidade, pronto para o desafio de transformar a UFPR.