Membros da universidade, que antes tinham acesso a uma quota de 1 Terabyte de armazenamento no OneDrive, agora só tem 100 Gigabytes disponíveis.
Desde 2019, a comunidade acadêmica da Universidade Federal do Paraná tem acesso gratuito ao pacote Office 365 da Microsoft. Isso se deve a um “acordo de adesão sem custos”, como fora divulgado na época, firmado pela atual gestão da universidade com a empresa de tecnologia. Dentre os serviços prestados pela Microsoft, está o de armazenamento em nuvem, que desde o último mês de maio, foi restringido significativamente, devido uma nova política da empresa de tecnologia. O que eram 1000Gb (1Tb) disponíveis por usuário, passaram a ser apenas 100Gb, ou seja, uma redução de ordem de grandeza, que aconteceu de forma repentina e sem margem para resposta da universidade, que depende dos serviços prestados pela Microsoft.
Um dos primeiros a perceber essa diminuição foi Marcelo Garson, professor adjunto do Departamento de Comunicação. Ele utilizava do serviço e tinha mais do que 100Gb armazenados em sua conta do OneDrive. Quando o limite baixou, passou a receber uma notificação programada do software, que dizia que não havia mais espaço disponível na sua quota da nuvem. De acordo com o docente, ele não foi informado de nada, “Primeiro, até imaginei que fosse algum contratempo relacionado à greve (na época ainda em andamento)… Só depois fiquei sabendo, através de colegas de trabalho, que o limite tinha baixado mesmo”, ele conta.
Durante uma semana, Garson tentou resolver o problema. Chegou a apagar alguns arquivos na tentativa de bater o limite estabelecido. Não funcionou. No fim, o professor desistiu do armazenamento da Microsoft e migrou tudo para a nuvem da Google. Pagou, do seu próprio bolso, R$389,90 por 2 Terabytes de armazenamento no Google Drive, plano que deve ser renovado anualmente. Segundo ele, ele já pagava R$80,00 para armazenar seus e-mails na nuvem da Google, mesmo tendo acesso aos serviços de armazenamento oferecidos pela Microsoft, através da UFPR. Apesar de não ter perdido nenhum arquivo importante, a situação se tornou um transtorno para o docente, “Foi um inferno… Ninguém foi avisado de nada. Precisei parar tudo o que eu estava fazendo e ir atrás disso”, relata.
Microsoft x UFPR: com o que precisamos ficar atentos?
Quando foi anunciado em 2019, o acordo de adesão ao Pacote Office 365 foi prontamente criticado em um ofício, tanto pelo então Chefe do Departamento de Informática (Dinf), Fabiano Silva, quanto pelo Diretor do Setor de Ciências Exatas, Marcos Sunye. Dentre suas preocupações, estavam a questão do aprisionamento tecnológico que aquele contrato poderia causar e a segurança dos dados da UFPR, que desde então passaram a ser armazenados em um datacenter da Microsoft, sujeitos a acessos, aos quais a universidade não tem controle.
Apesar da resistência do Setor de Exatas, a administração da UFPR, na época gerida pelo atual reitor, Ricardo Marcelo, em seu primeiro mandato, deu continuidade ao acordo. Na ocasião, a adesão foi amplamente divulgada como sendo “sem custos”, e uma maneira de economizar milhões de reais que teriam sido gastos em armazenamento de dados da universidade, além de aprimorar os serviços de informação e comunicação antes exclusivamente prestados pela AGTIC. Realmente, nenhum dos serviços prestados à UFPR é, até o presente momento, cobrado pela Microsoft. No entanto, a redução repentina do limite de armazenamento permitido a cada usuário é um indício de que a universidade não tem total controle sobre seus sistemas informacionais, visto que isso não estava previsto no acordo com a empresa de tecnologia.
De acordo com o mesmo Fabiano Silva, docente que chefiou o Dinf até 2022, oferecer um serviço de graça para depois restringi-lo ou cobrá-lo é uma estratégia recorrentemente adotada por grandes corporações como a Microsoft – as big-tech – para aprisionar tecnologicamente outras instituições. Ele explica que isso ocorre, pois adotar ou deixar de usar uma nova tecnologia também implica em um grande esforço coletivo para migrar processos de dentro da instituição para um novo sistema fechado. Sair de um contrato como o Projeto Pacote Office 365 hoje, por exemplo, implicaria em um novo esforço de adaptação, o que é cansativo e ainda pode envolver algum custo agregado, “Hoje, boa parte dos processos de comunicação da universidade dependem completamente da plataforma Teams (também parte do pacote Office), que é um software que a maior parte da UFPR não usava antes”, ele reforça.
Além disso, também existe a preocupação com os riscos que envolvem repassar dados valiosos de inovação e pesquisa, como os produzidos dentro de uma universidade pública, para a nuvem da Microsoft. Em seu ofício, enviado para o então Diretor Executivo da PRA/AGTIC, Valmir Antunes Pereira, em setembro de 2019, o professor, Fabiano Silva, fez esse questionamento. A resposta foi que grandes corporações que prestam o serviço de armazenamento em nuvem investem pesado em segurança de dados e por essa razão a Microsoft era uma alternativa segura. Apesar disso, a direção da AGTIC não chegou a referenciar nenhum termo do acordo entre a empresa e a universidade. Apenas o link para a página da Declaração da Política de Privacidade da Microsoft, válida para qualquer usuário de seus serviços.
Segundo Fabiano, uma alternativa mais prática e segura para a UFPR seria a adoção de uma solução baseada em software livre – isso é: que pode ser usado, modificado e distribuído livremente por qualquer pessoa. Dessa maneira, a universidade poderia atender suas demandas de tecnologia e informação sem depender de um sistema fechado e externo e, “De preferência sem gerar uma transformação nos sistemas administrativos (como ocorreu após a adoção do Pacote Office 365), o que é sempre traumático”, ele adiciona.