Já passou da hora de falarmos sobre a relação entre o poder público e as big techs. Se você se interessa pela vida na Federal e por tecnologia, siga este pensamento:
Desde que a ciência se integrou ao nosso cotidiano, ela guia muitos aspectos da nossa vida. Do exame de saúde à louça que lavamos, há ciência por trás de tudo. E a universidade é o principal centro de produção de conhecimento, pesquisa e inovação no mundo.
O Papel das Universidades e o Perigo das Big Techs
Hoje, a maioria das universidades utilizam programas da Microsoft ou Google. E qual o problema nisso? Essas empresas detêm um oligopólio tecnológico, com fácil acesso a nossos dados e conhecimento. Grandes descobertas e pesquisas realizadas em universidades estão sendo oferecidas de bandeja para essas empresas.
Por exemplo, a corrida por diagnósticos automatizados depende de bases de imagens médicas rotuladas, mas o Brasil ainda não possui uma política específica sobre isso. Os sistemas de e-mail, videoconferências e armazenamento de documentos das universidades públicas são oferecidos gratuitamente a Google e Microsoft. Essa prática gera um risco imenso: permitir que essas empresas se apropriem de nossos dados para criar produtos lucrativos.
A Espionagem das Big Techs e a Soberania do Brasil
Nos últimos anos, as grandes empresas de tecnologia, conhecidas como big techs, têm sido acusadas de coletar dados massivamente, muitas vezes sem o conhecimento ou consentimento dos usuários. Esse comportamento levanta sérias preocupações sobre privacidade e segurança, especialmente em países como o Brasil.
O Brasil, infelizmente, tem se tornado um alvo frequente de espionagem tanto de empresas quanto de governos estrangeiros. Durante o governo Bolsonaro, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) realizou a compra de tecnologias de espionagem sem a devida transparência, gastando cerca de R$34,7 milhões em contratos sigilosos. Equipamentos de vigilância, como a ferramenta Augury, permitiram o rastreamento contínuo da navegação de cidadãos, capturando dados detalhados de tráfego, incluindo credenciais de acesso a plataformas privadas.
Além disso, há um crescente debate sobre a necessidade de regulamentação das atividades das big techs no Brasil. O Ministro das Comunicações, Juscelino Filho, defendeu recentemente a regulamentação e taxação dessas plataformas, argumentando que elas consomem uma parte significativa do tráfego de dados do país e faturam bilhões sem pagar impostos adequados.
A questão da espionagem e da falta de transparência nas compras de tecnologias de vigilância no Brasil é um alerta para a necessidade de uma regulamentação mais rígida e de medidas que garantam a soberania digital do país. Implementar políticas de proteção de dados e adotar tecnologias de software livre podem ser passos cruciais para assegurar que o conhecimento e os dados produzidos no Brasil permaneçam sob controle nacional.
A Alternativa: Software Livre
A solução? O software livre. Este movimento prega a liberdade, a transparência e a replicabilidade, oferecendo uma alternativa para garantir a autonomia e a soberania dos órgãos públicos. Entre 2003 e 2008, o Brasil economizou R$ 380 milhões usando software livre, segundo o Serpro.
Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) possui um dos maiores espelhos de softwares livres do Brasil. Com mais de 20 anos de experiência, o C3SL oferece acesso à tecnologia de ponta, comparável aos melhores centros internacionais. O software livre pode fornecer servidores web, sistemas operacionais, editores de texto e gerenciadores de redes abertos e gratuitos.
Desafios e Necessidades
Ainda existem barreiras para a adoção do software livre, como a resistência à mudança nas práticas institucionais. É fundamental oferecer treinamentos e desestigmatizar o uso de softwares alternativos às big techs. Isso requer vontade política e valorização da universidade pública como agente transformador.
As universidades brasileiras precisam ter uma voz ativa na sociedade. Elas devem se reinventar continuamente e repassar o conhecimento acumulado para a sociedade. Quando uma universidade americana se pronuncia sobre um assunto estratégico, isso causa um impacto imediato. No Brasil, as universidades são tímidas para opinar.
Conclusão
Para garantir a soberania nacional e a segurança dos dados dos cidadãos, precisamos adotar o software livre e valorizar nossas universidades públicas. A UFPR, através do C3SL, está na vanguarda desse movimento. Com a formação adequada e a tecnologia certa, podemos garantir um futuro mais seguro e inovador para todos.
*Professor do Departamento de Informática e pesquisador do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
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O Movimento UFPR é uma iniciativa colaborativa que visa transformar a Universidade Federal do Paraná (UFPR) em um ambiente mais inclusivo, inovador e democrático. Unindo professores, técnicos e estudantes, o movimento promove a participação ativa de toda a comunidade acadêmica na construção de uma universidade que valoriza a ciência aberta, a transparência e a inclusão social. Com foco em reduzir a burocracia e aumentar a eficiência, o Movimento UFPR defende o uso de tecnologias livres e a autonomia institucional como pilares para uma gestão mais participativa e eficiente. Através de debates, reuniões e uma plataforma de democracia digital, o movimento busca coletar e implementar ideias que possam contribuir para um futuro melhor para todos na UFPR.
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