Sob boicote, Graciela presidiu apenas duas reuniões completas dos conselhos nos últimos quatro anos

Por: Mario Messagi Junior

Posse da Vice-Reitora da UFPR, Profa. Dra. Graciela Ines Bolson de Muniz| Foto: Marcos Solivan, SUCOM

Enquanto vice-reitora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Graciela Bolzon Muniz, presidiu apenas duas reuniões completas dos conselhos superiores nos últimos quatro anos. A informação é baseada em um levantamento das atas das reuniões dos conselhos: de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE); de Planejamento e Administração (Coplad); e o Universitário (COUN), instâncias máximas da UFPR que podem ser presididas tanto pelo reitor, quanto pela sua vice. Em algumas ocasiões, Fonseca chegou a desmarcar reuniões quando entrava de férias, de tal forma que Graciela não conseguiu exercer as funções para a qual foi eleita.  

A chapa Movimento UFPR solicitou essa informação à Universidade no dia 27 de maio de 2024, por meio da lei de acesso à informação. A pergunta enviada: “Quantas vezes, desde que tomou posse há sete anos, a vice-reitora Graciela Ines Bolzon de Muñiz presidiu sessões dos conselhos superiores (CEPE, COPLAD e COUN), a cada ano incluindo 2024, por todo tempo da reunião dos conselhos?” foi respondida de maneira evasiva pela universidade: “As informações requisitadas encontram-se disponíveis no portal desta Universidade Federal do Paraná, para acesso público, de maneira permanente”. Apesar de os dados estarem presentes na página da Secretaria dos Órgãos Colegiados , essa informação exige uma apuração mais detalhada e trabalhosa, que geralmente é feita e disponibilizada por instituições públicas que prezam pela transparência. 

De qualquer forma, analisando as atas das reuniões dos conselhos superiores no período 2020-2024, é possível observar que Graciela presidiu apenas duas das 71 reuniões realizadas. Dessas, 21 eram sessões do COPLAD; 30 do CEPE; e 20 do COUN. Desse levantamento foram retiradas reuniões realizadas por câmaras e de comissões, das quais usualmente o reitor e a vice-reitora não são presidentes.  

Além disso, de acordo com um membro do CEPE, que não deseja ser nomeado, em diversas ocasiões o atual reitor Ricardo Marcelo optou por cancelar reuniões do conselho no período em que esteve de férias e não podia presidir. Esse tipo de ação contribuiu para o afastamento de Graciela da atual administração e a impediu de exercer suas funções como vice-reitora da UFPR. 

Machismo e misoginia

Vice-Reitora da UFPR, Profa. Dra. Graciela Ines Bolson de Muniz ao lado do atual reitor, Ricardo Marcelo da Fonseca| Foto: Marcos Solivan, SUCOM

A proporção de mulheres ocupando cargos de chefia nas superintendências e pró-reitorias da UFPR é baixa. Apenas dois, dos onze cargos disponíveis. De acordo com a coordenadora do Programa de Pós-graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia (PPGMPP), Edneia Amancio, essa questão é invisibilizada na universidade e precisa ser mais debatida. Segundo ela, apesar de que a universidade historicamente tenha muitas coordenadoras em seu quadro geral, as posições de chefia do alto escalão da UFPR ainda são majoritariamente ocupadas por homens. 

A coordenadora, que esteve próxima de Graciela nesses últimos anos, ainda ressalta que o caso da vice-reitora é uma demonstração do quão prejudicial é essa falta de representatividade feminina na administração da universidade. Apesar de ocupar uma posição de poder dentro da UFPR e possuir amplo conhecimento em diversas áreas da ciência, somadas a contribuições notórias para a universidade, Graciela teve sua opinião sistematicamente ignorada em uma gestão amplamente masculina. Edneia afirma: “Isso era uma queixa constante dela… Ela passou por momentos ruins nos últimos anos, especialmente pelo etarismo e a misoginia em momentos de decisão”.

Opiniões de mulheres da UFPR

 A chapa Movimento UFPR também buscou depoimentos de mulheres que fazem parte dessa instituição e vivenciam a falta de representatividade política feminina nos altos escalões da universidade. Confira

“A falta de representação também é um entrave para que outras mulheres se vejam nesses lugares e ambicionem estar neles. Precisamos ser exemplo para os demais espaços de poder que também sofrem com essa falta de paridade e equidade”.

Regiane Ribeiro, diretora do Setor de Artes, Comunicação e Design (Sacod).

 “O boicote é um dos repertórios do machismo e da misoginia. É uma maneira de silenciar a voz das mulheres nos espaços de decisão. Na universidade, essa atitude é envernizada pela condescendência, que dá a aparência de gentileza à arrogância. Um exemplo é o mansplaining, o ato de explicar algo a uma mulher como se ela não fosse capaz de entender ou falar sobre algo. Nem a alta qualificação da professora Graciela a livra disso.”

Kelly Prudencio, professora do departamento de comunicação e pesquisadora na área de comunicação e participação política. 

“A UFPR tem uma dívida de respeito e gratidão com a professora Graciela e com as mulheres que são parte da nossa comunidade. É preciso resgatar essa dívida”

 Camila Fachin, candidata a vice-reitora pela Chapa 3 (Movimento UFPR) e coordenadora do curso de medicina. 

Chega junto com o Movimento UFPR.

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