A colocação publicada, 6ª entre as universidades brasileiras, oculta o método de divulgação utilizado pela revista britânica, que na verdade ranqueia pelo menos outras onze instituições antes da federal paranaense.
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) está entre a 12ª e a 26ª melhor universidade do Brasil, segundo a revista britânica Times Higher Education (THE), o que não condiz com o que foi divulgado pela federal em fevereiro deste ano. Na ocasião, a UFPR publicou em suas redes sociais e em seu portal de informações uma imagem com as seguintes frases: “6ª melhor universidade do Brasil” e “4ª melhor federal”, distorcendo os dados publicados pela THE para o seu benefício.
Isso foi possível, pois a revista britânica classifica apenas as primeiras 199 universidades de forma individual. Após isso, as instituições são aglomeradas em estratos mais amplos e não se sabe ao certo a posição exata de cada uma delas. A UNESP e a UFRJ, por exemplo, estão ranqueadas entre o 601º e o 800º lugar, mas o ranking não informa qual delas está na frente da outra, nem a diferença de colocações entre elas, visto que a metodologia adotada pela revista não tem sensibilidade suficiente para diferenciar as universidades de tal maneira.
A UFPR, segundo a THE, está entre o 1201º e o 1500º lugar no ranking de melhores universidades do mundo, estando “empatada”, ou seja, no mesmo estrato de outras 14 instituições brasileiras. Acima dela, estão mais bem ranqueadas outras 11 instituições, que se dividem em cinco estratos (confira em: link). Por isso o título de “6ª melhor universidade do Brasil” na realidade não se sustenta. Seria mais apropriado dizer que a UFPR pertence ao sexto pelotão de universidades brasileiras no ranking, o que não é necessariamente ruim, mas dado ao histórico de uma das instituições de ensino superior mais antigas do país, ainda é pouco.
Nos últimos nove anos, a UFPR tem caído no ranking da THE de maneira quase contínua. Em 2016, a universidade aparecia entre o 601º e 800º lugar e desde então desceu dois pelotões, ficando entre a 1201ª e a 1500ª colocação (ver gráfico abaixo). Apesar disso, é importante levar em consideração que a revista britânica foi aumentando a sua base de dados com o passar dos anos, avaliando cada vez mais universidades ao redor do mundo. Isso significa que a UFPR não está necessariamente piorando a sua qualidade de ensino, mas que, na melhor das hipóteses, está estagnada, podendo fazer muito mais pela sua comunidade acadêmica.
A função dos rankings
Os rankings podem assumir uma função publicitária, sobretudo para as universidades privadas. No entanto, sua riqueza não está nesse ponto. De acordo com o professor do curso de Economia da UFPR, Marco Cavalieri, explorar as informações dessas análises exige destrinchar as suas metodologias, e não tomar a posição simplesmente como um feito extraordinário, “Até porque a distância entre universidades que estão em sequência no ranking pode ser grande. É exatamente o que acontece entre UFRGS, UFRJ e UFMG, que estão em estratos acima do nosso, e o pelotão no qual estamos”, ele complementa.
Segundo Cavalieri, é essencial que haja transparência na divulgação desse tipo de informação, “Os rankings indicam para a UFPR o quanto ela atingiu as metas que colocou para si mesma. Isso nos ajuda a definir a universidade que queremos ser e hoje não temos isso”. Ou seja, ao distorcer os dados divulgados pela revista britânica THE, a universidade também mascara a realidade, transmite a falsa sensação de que seus objetivos estão sendo alcançados e diminui a perspectiva para melhora. Apesar de ser importante realçar as qualidades da universidade pública atualmente, isso pode e deve ser feito de outra maneira.